CAPÍTULO 13 - TECNOLOGIA E GOVERNANÇA |
Harold A. Linstone Portland State University, Portland, Oregon A combinação de um crescimento explosivo da população e uma tecnologia que evolui rapidamente está de fato encolhendo o mundo a uma aldeia global. Os 5.77 bilhões de habitantes em 1997 podem crescer para 9.4 bilhões em 2050. Ao mesmo tempo a crescente lacuna entre as taxas tecnológica e organizacional de mudança está produzindo um também crescente desencontro: estamos entrando numa nova era com tecnologia do século XXI, processos de governo do século XX, e estruturas de governo do século XIX. Alguns encaram esse desencontro como sendo entre as tecnologia física e social. A combinação de estreiteza de visão, irresponsabilidade, credulidade, ganância humana, e medo de mudança está impedindo a evolução homogênea de uma sociedade de conhecimento. A demografia exerce um papel significativo na expansão da lacuna no mundo desenvolvido. A juventude galvanizou a revolução da tecnologia de informação: o computador pessoal ou PC é criação de hackers e empreendedores assombrosamente jovens ( como Steve Jobs e a Apple, Bill Gates e a Microsoft). Por outro lado, o envelhecimento da população, assim como o dano à juventude causado pela deterioração na educação e pelo enfraquecimento dos cérebros devido à epidemia das drogas e à desnutrição resultante de uma infância pobre, ergue barreiras a uma efetiva mudança social. A tecnologia está servindo, moldando, e isolando a elite, enquanto diverte ou narcotiza as massas com entretenimento, e marginaliza os pobres. A exacerbação descontrolada de tais padrões pressagia sérias tensões e fraturas na sociedade, acompanhadas de disfunções de governo e instabilidade. Esses efeitos atingirão tanto os países desenvolvidos quanto os em desenvolvimento. Não está de forma alguma assegurado que a democracia possa sobreviver à turbulência resultante e resistir à tentação de, digamos assim, um "fascismo amigável" apoiado pela maioria. A pressa em minimizar o vasto abismo tecnologia-organização sugere duas possibilidades:
Este cenário é inimaginável para a maioria das pessoas, particularmente para cientistas e engenheiros. Parece impossível deter o avanço tecnológico. Uma nova Idade das Trevas é tão inconcebível quanto esta última deve ter parecido às previsões da Época Dourada do império romano.
Não há dúvidas de que as tecnologia de informação, comunicação e transportes permitem modificações profundas e dramáticas em organizações e governos. A indústria já está nos mostrando novas formas de organização, tais como corporações reduzidas, "virtuais", descentralizadas e globais. Tomando apenas um exemplo, vemos hoje que a tecnologia da informação torna possível como nunca termos SIMULTANEAMENTE localização e globalização, fragmentação e integração, ou descentralização e centralização, em muitos aspectos da sociedade. A inovação organizacional baseada em estruturas intensivas de coordenação é uma conseqüência. A EVOLUÇÃO DE SISTEMAS COMPLEXOS: UMA METÁFORA É interessante observar que a evolução de sistemas complexos parece ocorrer através de oscilações periódicas entre centralização e descentralização. Uma metáfora para se obter compreensão acerca da evolução de sistemas complexos é sua descrição em termos de processos alternados de separação e combinação. Um sistema hierárquico simples como, digamos, uma tribo ou uma companhia pequena, cresce até que não possa mais ser efetivamente controlado de forma centralizada. Então ele se separa em unidades menores com considerável autonomia. Quando há muita descentralização e o sistema não funciona mais, a reunificação ocorre, usualmente num nível de complexidade mais alto do que anteriormente. Em outras palavras, uma evolução bem sucedida consiste em aumentar a complexidade do sistema através de restruturações periódicas oscilando entre diferenciação e integração. LIÇÕES DO PASSADO A história nos dá indícios fascinantes de centralização e descentralização. O vasto império romano só podia operar com considerável descentralização, ainda que possuísse excelentes comunicações para sua época. Era fisicamente impossível exercitar um controle centralizado do dia a dia. Ele funcionava como se segue. Tomava-se grande cuidado no Centro para se apontar um governador de uma província ou um comandante militar. Ele era altamente treinado na forma em que operava o sistema romano e as suas políticas eram nele profundamente arraigadas. Ele tinha de possuir um alto posto em Roma antes de ser indicado para um posto remoto. Dessa forma, assegurava-se a coordenação entre as províncias. A queda de Roma levou a uma descentralização e uma tentativa da igreja católica de estabelecer um governo centralizado para o Santo Império Romano foi um compromisso temporário. A luta por poder entre os controles centralizado religioso e descentralizado secular ensangüentou a Europa por séculos na Idade Média até que este último vencesse. A revolução da tecnologia da comunicação causada pela imprensa desempenhou um papel crucial. Um desafio para o terceiro milênio é o de criar, nas palavras de Madison, uma nova "combinação feliz", equilibrando os níveis global/regional, nacional e local de governo numa forma apropriada à encolhida aldeia global e à estrutura intensiva de coordenação tornada possível pela atual revolução baseada na tecnologia da informação. REPENSANDO O GOVERNO Estruturas e Redes Intensivas de Coordenação: Estruturas intensivas de coordenação podem ajudar a desenvolver novos sistemas. Há um reconhecimento crescente de que é possível governar sem um governo formal. Podem-se criar instituições sociais e organizações informais para lidar coletivamente com questões específicas, desenvolvendo regras para o jogo e solucionando conflitos. Há sistemas físicos e biológicos que não estão subordinados a qualquer governo nacional, como a Antártida, os oceanos, o espectro eletromagnético, e o sistema climático mundial. Tais "bens comuns" internacionais podem ser geridos por formas de governo regionais ou globais. Uma característica dessa restruturação é a máxima flexibilidade e coordenação; um objetivo é a UNIDADE NA DIVERSIDADE. Uma revisão e dinamização do governo é uma tarefa essencial na adaptação da sociedade ao ambiente de informação intensiva do século XXI. A tecnologia de hoje nos oferece individualmente e coletivamente uma prótese destacadamente poderosa do cérebro humano. Ela torna "unidade na diversidade" e bem-estar na aldeia global objetivos concretizáveis, mas a obtenção destes requer liderança inovadora e uma flexibilidade institucional sem precedentes. |