CAPÍTULO 11 - EDUCAÇÃO |
EDUCAÇÃO: UM NOVO ENQUADRAMENTO William Barnes A função da escola é primeiro e principalmente o treino moral, a construção do carácter e a rectificação da conduta. O principal papel da educação tem sido até agora o de transmitir costumes e informação às novas gerações. A educação tem visto assim o seu propósito actuando num estado social e de informação, relativamente estático. Mas no mundo de hoje, de acelerado desassossego social e intelectual, em que o próprio conhecimento cresce de forma exponencial, em que tudo muda ou se recria em curtos períodos de tempo, a educação não pode ficar focada apenas na transmissão de um pacote de conhecimentos e clarificação e refinamento de uma visão estabelecida. A educação de hoje deve preparar os estudantes para uma atitude dinâmica, atenta e capaz de mudança ao nível emocional, intelectual e espiritual. Tal requer um novo tipo de educação, com novas metas educacionais, diferentes objectivos de aprendizagem e outras estratégias de ensino. Mas afirmar isto não é negar o verdadeiro estado d e ansiedade que esta afirmação cria dentro de nós. Muitos sentem ansiedade em relação à educação porque também a sentem em relação ao futuro. Porque os laços indivisíveis que ligam a educação à sociedade estão postos em questão e a falta de confiança na educação não pode estar divorciada das dúvidas sobre a sociedade em sentido lato e os objectivos da educação não podem ser separados dos objectivos da sociedade. Assim, falar de um novo tipo de educação implica falar de um novo tipo de sociedade. O que é esta nova sociedade? Qual é o seu aspecto? Como funcionam as suas instituições? São estas as perguntas que estão na base da ansiedade. Esta ansiedade é compreensível e no entanto a única alternativa à criação da nova sociedade é continuar a viver no esquema social existente de acordo com as formas tradicionais e estas estão a desintegrar-se cada vez mais rapidamente. Devemos perguntar a nós próprios: Queremos realmente que as nossas escolas preparem as nossas crianças para a vida em sociedades onde tudo está em desagregação, onde as relações humanas se romperam? As escolas devem sair do seu papel de conformistas sociais e passar a desempenhar o papel de transformador social, embrião da nova sociedade. Precisamos agora de uma reforma radical na educação porque as exigências da sociedade são radicalmente novas. Presentemente transmitem-se características humanas que não funcionam mais. Tomar a sociedade actual como objectivo da educação e preparar para o futuro que ela promete, é preparar para um futuro que não existirá. Uma resposta a esta situação tem sido a abertura escancarada a experiências educacionais, à experimentação não só com tipos alternativos de escolas como também com diferentes conteúdos e métodos de instrução nas escolas tradicionais. Contudo, transparece agora, que a experimentação em si mesma não é suficiente para assegurar a realização de novas descobertas com importância significativa. Empilhar simplesmente facto sobre facto, ponto de vista sobre ponto de vista, não irá gerar por si só as novas maneiras de pensar que procurarão activamente novas soluções para problemas há muito por resolver. Inundar simplesmente os estudantes com mais informação, não é educá-los, não é transmitir-lhes uma nova visão de educação. Então, mais do que mera informação, mais do que reorganizar conteúdos e tentar novas estratégias de ensino, a educação necessita de uma visão radicalmente nova para o seu propósito. A missão prioritária das escolas é hoje não o ensino académico mas o treino moral, o que significa, desenvolvimento espiritual e serviço à comunidade. Se isto é verdade então, juntamente com e mais importante que, a aprendizagem de, por exemplo, matemática, ciências e línguas, os estudantes devem aprender os valores morais que estimularão o seu desenvolvimento espiritual pessoal e a capacidade moral que irá harmonizar as forças em conflito na sua comunidade e, através do serviço aos outros, aprender a construir novas relações sociais que reflictam um sentido renovado de comunidade. O conhecimento e a capacidade académica são valiosos enquanto ajudarem a construir sociedades espirituais. Aqueles profundamente envolvidos no estabelecimento de uma nova forma de educação devem começar com uma visão dos ideais normativos capazes de criar unidade moral e consenso na sociedade, capazes, em resumo, de efectuar a re-moralização da sociedade. Uma nova visão da educação tem de se basear sobre uma nova visão da sociedade, de forma a que a educação possa preparar os estudantes para essa nova sociedade. Uma tal visão pode ser encontrada nos pensamentos de Bahá'u'lláh, Fundador da Fé Bahá'i. Este trabalho aplicará os princípios para criar um modelo compreensivo de filosofia e pratica educacionais. Contudo, se as escolas devem ser agentes de transformação social, devemos primeiro discutir a ideia de mudança social através do desenvolvimento moral. Valores Universais / Sociedade Global A humanidade caminhando para a unidade em todos os aspectos essenciais através de um processo tumultuoso. Por isso a desintegração hoje observável em várias esferas da actividade humana mais não é do que um conjunto de sintomas deste movimento profundo de unificação. A transformação social deve estar apoiada sobre uma fundação moral unificada e deve operar através de praticas éticas ou regras morais unificadas por forma a canalizar as poderosas forças de mudança e de criatividade que rodopiam a grande velocidade por todo o mundo. O primeiro de entre todos os valores morais, é o da consciência da unicidade da humanidade. A primeira de entre todas as praticas éticas é a da criação de unidade sempre que seja encontrada desunidade. Outros princípios importantes, essenciais ao desenvolvimento e transformação da sociedade humana são: a eliminação do preconceito baseado em religião, raça, nação, classe ou sexo; crença nos direitos e oportunidades universais para o homem; harmonia entre a ciência e a religião; necessidade de cada indivíduo buscar incessantemente a verdade; necessidade de educação obrigatória e universal; irradicação de extremos de pobreza e riqueza; a preservação da santidade do casamento e da vida familiar; e a necessidade de preservar o ambiente através de uma correcta relação com o que nos rodeia. É importante notar que a visão da unicidade da humanidade não pode ser realizada pela simples integração de perspectivas variadas ou de diferentes culturas. A Sua visão não foi construída peça a peça a partir de fragmentos ou de visões menores nem foi o resultado da amálgama das tradições ou costumes do mundo. Como todas as visões genuínas, a sua forma essencial deriva da sua própria lógica interna através da passagem do seu próprio estado de auto-transformação para o seu próprio estado de maturação. É, desde o seu começo, uma maneira distinta de ver o mundo e de interpretar a experiência humana, não é uma integração de culturas pelo seu integrador. É simultaneamente uma nova visão da sociedade humana e uma renovação da visão tida pelas grandes e santas Figuras do passado. A humanidade numa perspectiva de eternidade, uma perspectiva que considera o mundo não só do princípio ao fim do planeta como também do inicio do tempo até ao fim da história. A eternidade é a origem dos valores duradouros da humanidade, porque o que existe na eternidade persiste no tempo e na cultura. Os valores universais, tais como, amor, paz, justiça e respeito, que são a base das visões morais de todas as grandes Figuras religiosas da humanidade, têm constituído a fundação de cada sociedade. A característica que mais sobressai hoje é que aquilo que é universal, aquilo que é sempre bom e verdadeiro, tem de tornar-se global, ou tem de ser verdadeiro em toda a parte, porque só isso pode constituir a fundação de uma única ordem social abrangendo todo o mundo. Numa ordem universal global os mundos interior e exterior do ser humano estão perfeitamente ligados. A humanidade tem uma consciência, uma sociedade, um modo de vida, embora infinita diversidade permaneça dentro dessa unidade. Quando a sociedade está estável a moralidade é como a gravidade, uma força de coesão, subtil, difusa, invisível mas extraordinariamente poderosa, que mantém os povos sob sua influência seguros a propósitos comuns e actuando harmoniosamente e que se torna sobremaneira notada quando está ausente. A moralidade tem a ver com tudo o que é civil, social, político e económico, sem ser nenhuma destas coisas. No entanto torna todas estas possíveis porque ela faz os membros da sociedade partilharem objectivos e a praticas comuns e oferece uma visão mais ampla da capacidade e acção humanas. Quando a moralidade funciona melhor, cria uma confiança, afeição, amor e respeito indescritíveis e um profundo e permanente sentimento de comunidade humana. Quando ela não funciona a sociedade humana é uma impossibilidade. Quando uma sociedade é injectada com novos valores morais isso começa por transtornar o equilíbrio social existente, por forma a criar um outro. Os valores morais universais ultrapassam aqueles tradicionalmente nacionais ou culturais e que a procura da humanidade por regras morais apropriadas à era da universalidade global é a causa principal da confusão e desentendimento que marca tanto a interacção entre grupos como entre indivíduos. Violenta perturbação social e psicológica fará parte do processo de transição da presente ordem internacional para a ordem global emergente. O estabelecimento de tal nova ordem perturbaria o equilíbrio do mundo. Tal aviso implica uma mudança orgânica na estrutura da sociedade actual, uma mudança tal como o mundo nunca antes experimentou. A transformação espiritual da sociedade começa com a transformação espiritual dos próprios indivíduos. A qualquer nível a que seja focado, este processo espiritual de mudança social segue sempre o mesmo caminho: as almas devem ser transformadas, as comunidades por esse meio consolidadas, e assim devem ser atingidos novos modelos de vida. A alma transformada cria a nova ordem mundial fundada sobre novos valores morais. Ou melhor, uma nova ordem social coalesce em torno de almas que vivem estes valores, crescendo em simultâneo e em conjunto. Estas reflexões têm repercussões importantes na educação. Porque se, tal como uma civilização mundial se está a formar sobre a crescente consciência da unicidade essencial da humanidade, então para preparar estudantes para o futuro, as escolas devem tentar educar os estudantes para viver numa sociedade que ainda não existe realmente mas que está a emergir. As escolas devem treinar os estudantes para a entrada nas estruturas sociais desta nova sociedade que estão agora em desenvolvimento, para a compreensão dos seus valores fundamentais, e para a utilização dos seus princípios e praticas éticas da vida de todos os dias para fazer avançar a sociedade existente na direcção da civilização mundial. Escolas que activamente inculquem o princípio da unicidade da humanidade são ninhos de mudança social, porque elas são os pontos onde duas sociedades, a existente e a emergente, se encontram, entram em conflito e se juntam. Estudantes educados para actuar de forma a promover a realização da unicidade da humanidade perturbarão forçosamente o equilíbrio da sociedade na qual residem, porque nenhuma sociedade actual expressa completamente a unicidade da humanidade, pois preconceito e injustiça grassam por todo o lado. Mas a educação para uma nova liderança moral da juventude que será a formadora de um novo contexto social, é uma tarefa que as escolas devem realizar. Se os valores morais são a fundação da sociedade, então os valores morais são também a fundação da educação. A Fundação Moral da Educação É vulgar nestes dias lamentar o terrível estado moral a que a sociedade chegou e exigir mais e melhor educação moral para ajudar a repará-lo. Mas a situação só tem piorado. A razão principal porque o presente ensino moral falha é que ele concebe de forma demasiado estreita tanto a verdadeira natureza do ser humano como o real propósito e princípios da educação moral e da instrução. A educação deve equipar os estudantes com a capacidade de se relacionarem, de maneira apropriada, aos três mundos que os seres humanos habitam, o mundo espiritual do desenvolvimento interior, o mundo social das relações entre pessoas e o mundo da natureza que nos rodeia a todos. Destes três tipos de educação, a educação espiritual, isto é, a aquisição de conhecimento de si próprio, é a base indispensável de todos, porque a aquisição das características espirituais e das virtudes louváveis do género humano é a base de todo o saudável desenvolvimento cognitivo, afectivo e da capacidade de decisão. O Homem deve conhecer o seu próprio ser e reconhecer o que o leva às alturas ou às profundezas, à glória ou humilhação, à riqueza ou pobreza. A educação espiritual é assim fundada sobre a questão: O que é o ser humano? O ser humano é aquela forma de vida criada à imagem e semelhança de Deus, o Criador do Universo. Os objectivos da vida humana são a procura consciente da reunião com Deus e a contribuição consciente para a construção de uma civilização em progresso permanente. Qual é então o propósito da educação? É idêntico aos propósitos da vida humana: reunião com Deus e contribuição para o avanço da civilização. Exploremos estes propósitos. O caminho individual de reunião com Deus baseia-se na relação do ser humano com o domínio do sagrado, transcendente e eterno reino divino. Esta relação é guiada pela necessidade fundamental de crescimento que anima o espírito humano. É realizada através do desenvolvimento espiritual consciente; isto é, mobilizando a alma para o aperfeiçoamento sem fim das virtudes morais nela contidas, ou, em resumo, conhecendo e adorando a Deus. O objectivo final de todos os grandes ensinamentos espirituais é educar todos os homens, para que possam na hora da morte, ascender na pureza e santidade mais completas e com absoluto desprendimento, ao Trono do Mais Elevado. A verdadeira educação moral deve inculcar o princípio de que cada estudante deve lutar por ter toda a sua vida construída a partir da sua relação com a força divina, porque a alma é a primeira de entre todas as coisas criadas a declarar a excelência do Seu Criador, a primeira a reconhecer a Sua Glória, a aderir à Sua Verdade, e a curvar-se em adoração perante Ele. Se, tal como, O princípio de todas as coisas é o conhecimento de Deus e se o objectivo final e mais elevado de todo o conhecimento é o reconhecimento d' Ele, que é o objecto de todo o conhecimento então, quer o estudante estude física, literatura ou educação física, esse estudo deve conduzi-lo a algum aspecto do Criador. O segundo objectivo de todo o ser humano, contribuir para o progresso da civilização, deriva do primeiro, aquele da reunião com Deus através da transformação espiritual pessoal. Uma melhor contribuição para o progresso da civilização é conseguido através do conhecimento alargado e da procura de oportunidades de serviço, e é no serviço aos outros que as virtudes morais encontram a sua expressão mais elevada. Mas a importância do serviço só transparece se o propósito social dos valores morais for compreendido e se forem usadas as apropriadas metodologias de instrução de educação moral. Uma boa educação moral realça o conteúdo ético e o valor social da aprendizagem. Os dois propósitos são ligados: Veja-se o homem como uma mina rica em pedras preciosas de valor incalculável. Só a educação pode fazer revelar os seus tesouros e permitir que a humanidade beneficie deles. A educação moral é geralmente vista como inculcando virtudes como amor, justiça e tolerância através de histórias, exemplos, discussão, jogos de simulação e coisas semelhantes. Estes são e continuarão sempre a ser uma parte essencial de qualquer curriculum de saudável prática educacional. Mas concebida desta maneira a educação moral continua a ser apenas uma parte da educação, um assunto de estudo particular. Isto não é suficiente. Porquê? Toda a educação reflecte a moralidade reinante. A cada nível da educação os princípios morais não são apenas objectos de estudo, uma parte do conteúdo intelectual da aprendizagem, mas desde o principio que impregna completamente a atmosfera educacional e estrutura todo o processo educacional. Em cada escola a moralidade é o meio dentro do qual a aprendizagem é feita. Muitos dos valores importantes permanecem essencialmente subentendidos, mas são eles que silenciosamente dão forma à troca de conhecimentos. Ou seja, o próprio projecto do edifício da escola, a cor das suas paredes, a forma das salas de aula e a disposição das cadeiras expressam ideias morais das relações humanas. O conteúdo organizado do curriculum escolar - o que escolhe realçar e instruir - reflecte crenças morais daquilo que é suposto ser bom conhecer; na verdade, todos os factores que entram na concepção e manutenção de uma escola e de um sistema de educação são, cada um e todos eles, extraídos de uma moralidade organizadora. Nos sistemas educacionais estabelecidos, tais princípios organizadores estão geralmente implícitos e influenciam inconscientemente o indivíduo. Problemas de legitimidade surgem frequentemente nesta situação. Porque as ideias morais estudadas nas aulas, as quais os estudantes supostamente desejariam adquirir, embatem muitas vezes contra os princípios que organizam o ambiente escolar e que reflectem aqueles da sociedade alargada. Isto conduz a um sentimento de desadequação das aulas de educação moral à realidade; de que estas não se encaixam na realidade local, e que aos alunos está a ser exigido, aparentemente sem qualquer boa razão, que nadem contra uma corrente poderosa. Este choque é parte de, e acrescenta ao declínio geral que se vive na sociedade por toda a parte. Por esta razão, embora os valores sejam ensinados e estudados em todas as escolas, a educação como tendo falhado amplamente na realização dos seus verdadeiros objectivos, afirmando: O homem é o talismã supremo. Contudo, a falta de uma correcta educação tem-no privado daquilo que ele possui por inerência própria. O fundamental da moralidade não consiste na relação do indivíduo com as normas da sua sociedade, porque isto conduziria eventualmente a um universo moral estático contido pela sociedade. E no mundo de hoje isto conduz descaradamente à imoralidade. Por outro lado, a instrução moral também não consiste em inculcar o espírito de aderência legalista e escravizante aos "podes" e "não podes" da sociedade. A moralidade deve ser uma força criativa no relacionamento humano através da aprendizagem dos princípios do crescimento espiritual, individual, colectivo e social. Os valores morais são expressões das forças interiores que operam na realidade espiritual de cada ser humano e a educação deve preocupar-se com estas forças se pretender tocar as raízes da motivação e produzir mudança significativa e duradoura. Assim, as qualidades do espírito são as fundações básicas e divinas e adornam a verdadeira essência do homem; e o conhecimento é a causa do progresso humano . Isto significa que, os valores morais são eles mesmos forças positivas dinâmicas de mudança, que procuram expressão própria e completa através da aquisição do conhecimento e da sua aplicação. A educação moral no sentido mais lato deve, não só conduzir à regulação da acção humana, mas também à construção de pensamentos e comportamentos positivos. Deverá disciplinar a conduta do indivíduo, mas ao mesmo tempo libertar as capacidades criativas para o seu movimento nas direcções socialmente positivas, permitindo aos individuos estabelecer novas estruturas sociais, mais abrangentes, e relacionar os seres humanos com o seu ambiente natural, de modo construtivo. Deverá preparar os estudantes para servir os interesses gerais de uma sociedade global, como um todo orgânico. Isto é o que está subjacente na frase uma civilização sempre em progresso. Se a unicidade da humanidade é a base de toda a educação, então trazer este princípio para a sua completa realização, deve organizar e estruturar todo o processo de aprendizagem. Tais valores morais como os que são sugeridos por este princípio não são inculcados da melhor maneira através do seu mero ensino como princípios abstractos na sala de aula. Eles devem, desde o inicio, permear e estruturar toda a atmosfera do ensino, actuando como aglutinador das várias matérias do curriculum, coordenando as actividades de aprendizagem, e criando objectivos educacionais que liguem o estudo académico com as atitudes de serviço para com os outros, que por si só, fornece a justificação e dá a aplicação apropriada do conhecimento adquirido. No seguimento deste trabalho apresenta-se um modelo prático de como isto pode ser realizado. Começamos com o ambiente social da escola e com o tradicionalmente chamado processo de socialização. O Ambiente Social da Escola Uma boa socialização deve conseguir equilibrar, numa interacção progressiva e dinâmica, os princípios complementares da individualidade e da comunidade. A comunidade proporciona o contexto dentro do qual cada individualidade se forma, enquanto que a individualidade é a melhor maneira de alargar e reforçar a unidade social. Estes princípios complementares só podem ser harmonizados e simultaneamente realizados dentro de um processo verdadeiramente consultivo. O processo consultivo consegue atingir muitos objectivos na escola, combinando os direitos dos indivíduos expressarem as suas opiniões, baseados na sua procura independente da verdade, com as necessidades do grupo de estabilidade e progresso ordenado. O processo consultivo destina-se a encontrar a verdade relativa ao assunto que está em discussão. Embora na consultação, frequentemente, a luz da verdade só se revele através do choque das opiniões, tal conflito livre e construtivo está contemplado e é dirigido pela atitude : Nenhum poder pode existir excepto através da unidade. Nenhuma prosperidade e nenhum bem-estar pode ser conseguido excepto através da consultação. A consultação confere maior consciência e transforma a conjectura em certeza. Ela é uma luz brilhante que, num mundo escuro, mostra o caminho e guia. Como foi realçado, a principal força de mudança é a criatividade individual. A este respeito, a filosofia educacional deve encorajar o espírito da procura independente da verdade, deve permitir a livre expressão de opinião e pensamento, deve aplaudir o desenvolvimento e a expressão da capacidade imaginativa. A promoção daquelas virtudes morais de flexibilidade, liberdade de pensamento, e de curiosidade, tão essenciais para o aparecimento do pensamento independente, devem fazer parte do ambiente escolar. Todavia, a liberdade de expressão dos indivíduos só é benéfica quando é mantida dentro dos limites do respeito pelos direitos dos outros. Consequentemente, deve-se prestar atenção para que os indivíduos sejam treinados no processo de participação plena, não só no que toca à determinação da sua própria aprendizagem mas também na ajuda da aprendizagem dos outros. Por esta razão, a principal qualidade de entre todas as virtudes sociais necessárias à promoção da expressão de opinião é a atitude de simpatia e de espírito aberto que se deve ter em relação ao que os outros dizem ou escrevem. Tal atitude é essencial ao processo de consultação, cujo objectivo não é a simples expressão das nossas opiniões pessoais, mas antes tomar decisões com base no conjunto total das opiniões. A individualidade não é realmente aprendida, antes é desenvolvida a partir de dentro do indivíduo, de uma maneira essencialmente predeterminada, quando existem as condições intelectuais e sociais apropriadas. A diversidade de pensamento e de sentimento, dentro de um contexto de objectivos e valores partilhados, aumenta a unidade da comunidade escolar ao possibilitar que cada indivíduo encontre a expressão adequada aos seus talentos inatos e ao permitir a todo o corpo escolar o empreendimento de novas actividades. A comunidade cria a possibilidade de atingir a verdadeira individualidade. Por esta razão, os alunos devem ter apreço e participar no desenvolvimento da sua comunidade escolar, tal como se esforçam pelo seu próprio desenvolvimento pessoal, porque esta comunidade é o seu ser mais alargado. O sentido de comunidade como o próprio ser alargado baseia-se nos laços emocionais positivos. Para que estes laços sejam fortes, o trabalho de base emocional que motiva uma criança a cooperar com outras e com as normas da escola e a mantê-la a ela e aos outros alunos responsáveis, deve ser estabelecido como ponto de partida. O principal objectivo do treino emocional é permitir aos alunos interpretar os seus próprios sentimentos e modificá-los quando necessário. Eles devem ser treinados longe de uma sociedade que lhes ensina a ser egoístas, ansiosos, impulsivos, mal-intencionados, exigentes e desobedientes à autoridade. Eles devem ser treinados a exceder em empatia (a identificarem-se com uma pessoa ou objecto em mente), cooperação e na capacidade de construir consenso, em resolver conflitos, em gerir ansiedade e raiva, a acabar as tarefas e em fixar objectivos e em manter a esperança quando em face de dificuldades. Este é um trabalho contínuo e é um grande desafio. Ele não pode ser evitado por razão alguma. Educação moral é também o processo de ajudar os alunos a criar amizades, a trabalhar independentemente e também cooperativamente em diversos grupos de aprendizagem, a compreenderem e a sentirem-se ligados e empenhados nos princípios de comportamento espiritual. Nos contextos da casa da vizinhança e da escola, as crianças aprendem a distinguir entre diferentes tipos de relações. Através da construção e vivência de diferentes espécies de amizades e de relacionamentos, e em contextos sociais diferentes, as crianças adquirem auto-conhecimento, individualidade, tolerância, paciência, capacidades de colaboração e sociabilidade, e aprendem a apreciar as diferenças. Em resumo, a construir a comunidade do sentimento. Uma área importante onde a consultação deve ter lugar, para que a comunidade possa ser construída, é o relacionamento entre os estudantes e o pessoal da escola. Se a escola deve ajudar a construir a nova sociedade, deve ser dedicado muito tempo não só ao desenvolvimento social entre estudantes mas também ao seu relacionamento com os professores, os administrativos e os auxiliares. Muito tempo e muita energia devem ser dedicados ao desenvolvimento de atitudes de cooperação e de ajuda mútua entre estes três grupos. Isto é, a escola deve ajudar cada estudante a desenvolver todo o seu potencial. Mas, reciprocamente, cada estudante deve ver como parte do seu objectivo, ajudar a escola a desenvolver a sua potencialidade total para educar. Incentivar esta atitude de responsabilidade mútua preparará os alunos para tornar possível a sua participação nos assuntos complexos da comunidade mais alargada, com o melhor das suas capacidades. A relação aluno/professor, funcionando segundo a metodologia da consultação, é a matriz do mundo da aprendizagem, e a administração da escola existe fundamentalmente para alargar, aprofundar e tornar segura esta relação. Fortalecer as relações aluno/professor requer um posicionamento da sala de aula que facilite uma interacção genuína entre os estudantes e os professores, que respeite os direitos de cada um. Então, o ambiente em que se integra a sala de aula, tal como a progressão académica dos alunos, devem ser bem geridos e mantidos em boa ordem. Isto pode ser reforçado através de um sistema, claro e consistente, de recompensas e penalidades. Os professores que têm uma visão de quem eles querem que os estudantes venham a ser, intelectual e socialmente, e uma visão daquilo em que querem que a comunidade se transforme, podem preparar os seus estudantes para serem membros válidos dessa comunidade global emergente. A Direcção da escola pode reforçar este processo encorajando a realização de reuniões frequentes nas quais o desempenho dos estudantes seja avaliado e nas quais o aluno em concertação com os adultos planeie e execute alterações aos seus estudos. A consultação sobre todos os tópicos, em todas as etapas, incluindo todos os grupos de pessoal, deve ser encorajada em todos os tempos. Mas também os alunos devem ser encorajados a tomar parte activa em não apenas na decisão dos seus cursos de instrução, mas também na consultação e na formação da decisão que necessariamente deve ocorrer na construção do ambiente escolar geral. Para permitir aos alunos fazer escolhas sensatas na vida, as escolas devem permitir que eles desempenhem algum papel na criação do seu próprio ambiente escolar, estabelecendo a sua agenda académica, definindo as regras de conduta, para eles mesmos e para os outros através do estabelecimento de uma estrutura de reunião onde os problemas que ocorrem sejam resolvidos pelos membros da comunidade e dentro desta. O foco deve ser a cooperação não a competição e deve-se gratificar a colaboração e o trabalho de equipa. Dê-se aos alunos responsabilidade real. Tratemo-los com respeito e dignidade e estaremos a aumentar as suas possibilidades de actuar responsavelmente. Através da sua participação no processo construtivo de consultação, a auto-estima e a auto-confiança dos alunos crescerá e eles gradualmente começarão a tomar conta da sua própria aprendizagem. Aprenderão a aprender, a ser colaboradores na sua própria aprendizagem em vez de recipientes passivos do conhecimento e da compreensão de outros. Implementar estas sugestões requer paciência e tempo. Tempo para criar novos entendimentos dos métodos e dos propósitos da aprendizagem, para aprender a trabalhar juntos para o benefício mútuo e tempo para ajustar a nova relação professor/aluno. Mas seja o balanço da liberdade individual e da estabilidade social atingido e então ocorrerá uma grande libertação de energia criadora que beneficiará o aluno, a sua família, a escola e finalmente o mundo inteiro. O estudo académico progredirá mais rápida e eficazmente se o ambiente social, que esse estudo deve fortalecer, estiver a funcionar de uma maneira saudável. O Curriculum Idealmente, o moral e o académico devem seguir de mãos dadas, com o estudo académico organizado segundo a moralidade escolhida. Contudo, tornou-se habitual pensar no curriculum como uma espécie de manual para entrar na sociedade para o lugar mais alto possível, como forma de adquirir riqueza e posição. Mas se a natureza essencial do ser humano é espiritual e o seu propósito é conhecer e amar a Deus, então o curriculum deve também ajudar na procura da identidade pessoal e inculcar os meios para adquirir aquelas virtudes pessoais e públicas que fazem parte da entrada numa ordem social avançada. O curriculum académico deve prover a fundação intelectual que nutre o desenvolvimento e o crescimento individual espiritual e mental. Mas, mais uma vez, o crescimento intelectual individual e o prosseguimento da aprendizagem devem servir o interesse comum de uma civilização em progresso contínuo. O resultado de realçar as metas intelectuais pessoais sobre as preocupações morais e espirituais do colectivo: Bom comportamento e elevado carácter moral devem vir primeiro porque, a não ser que o carácter seja treinado, a aquisição de conhecimento só resultará prejudicial. O conhecimento é louvável quando ligado a uma conduta ética e a um caracter virtuoso; de outra forma é um veneno mortal, um perigo temível. No entanto, dentro de um contexto educacional apropriado, o desenvolvimento moral resulta ele próprio da aquisição de conhecimento que seja útil para o indivíduo e para a humanidade, porque a aprendizagem é o pilar mestre do desenvolvimento. Na verdade, a relação entre o desenvolvimento moral e a aquisição de conhecimento é tão chegada que parece torná-los quase a mesma coisa. De todas as artes e ciências, ponham as crianças a estudar aquelas que resultarão em proveito para o homem, que assegurem o seu progresso e elevação. Assim os odores nocivos da ausência de lei serão dissipados e então através dos altos empenhamentos dos líderes das nações, todos viverão aconchegados, em segurança e em paz. O valor moral de tal aprendizagem está resumido na afirmação que a aquisição das ciências e o aperfeiçoamento das artes são considerados como actos de adoração. Se a humanidade está caminhando para um mundo unificado em todos os seus aspectos essenciais, o curriculum escolar deve apresentar uma estrutura e um movimento semelhantes. Os vários ramos do estudo devem estar integrados; isto é, as matérias do curriculum devem estar compostas dentro de uma perspectiva universal: unificadas umas com as outras, reflectindo a realidade social actual, em harmonia com a experiência passada, relevante para as oportunidades futuras, por forma a que os alunos saiam da sua educação formal percebendo alguma coisa sobre as relações universais do mundo, apropriadas à nossa era de universalidade. O princípio da unicidade da humanidade não nega as diferentes perspectivas que as várias artes e ciências trazem ao estudo dos seres humanos. Mas para ser avançada, a educação deve integrar novas descobertas e axiomas de pensamento com verdades estabelecidas. As legítimas diferenças de abordagem e de método das várias artes e ciências, tão necessárias para ganhar novas perspectivas e pontos de vista e que devem ser guardadas, têm permitido obscurecer, muito mais do que é permissível, a verdade fundamental de que é uma forma de vida singular que evolui e não simplesmente um agregado de brilhantes metáforas e construções teóricas. Dissemos que a educação deverá equipar os estudantes com os utensílios necessários para viver dentro de três mundos, o mundo espiritual da moral e da ética; o mundo humano das relações sociais; e o mundo da natureza. Para tanto um curriculum abrangente deve treinar as três maiores capacidades do homem - cognitiva, emocional e volitiva. Ele deve também desenvolver e refinar as faculdades interiores da imaginação, pensamento, compreensão e memória, e os sentidos exteriores da visão, audição, gosto, tacto e olfacto. Todos estes são poderes da mente racional, uma prenda da compreensão, que constitui a essência da inteligência humana. O seguinte esboço de um curriculum de educação, baseado na unicidade da humanidade não pode obviamente ficar completo dentro dos limites de um único artigo. As diferentes disciplinas referidas são-no dentro de modelos conceptuais simples, dentro de quadros mentais sobre as formas em que a informação relevante possa ser organizada de forma significativa. Elas não apresentam nenhuma nova teoria de pedagogia, nem nenhuma estratégia detalhada de ensino, nem estabelecem nenhuma maneira de separar o que é verdadeiro do que é falso nas várias disciplinas intelectuais. O que este modelo faz é usar certos valores morais como princípios organizadores para indicar as unidades estruturais da aprendizagem, os temas do curriculum, as imagens e os valores centrais que dirigem a mente para o centro do assunto. Estas devem estar ligadas umas com as outras através de uma metáfora rainha, nomeadamente, a unicidade da humanidade, por forma a dar uma visão universal. Educação Religiosa As escolas devem primeiro treinar as crianças nos princípios da religião, de forma a que a Promessa e o Castigo registados nos livros de Deus possam impedi-las das coisas proibidas e adorná-las com o manto dos mandamentos; mas isto deve ser feito numa tal medida que não cause mal às crianças resultando em fanatismo ignorante e intolerância. Numa completa educação os poderes da fé, da visão interior e da intuição não podem ser desprezados. Eles são desenvolvidos através da contemplação e da meditação na dimensão do sagrado. Este é o domínio da religião. O objectivo principal da religião é o desenvolvimento do indivíduo e da sociedade através da aquisição de virtudes espirituais e de ideais morais. Ela proporciona a potência que dirige qualquer filosofia ética eficaz. Os fundadores das grandes religiões, tais como, Moisés, Krishna, Cristo, Buda, Maomé e agora Bahá'u'lláh, são os autores das visões mais nobres da humanidade. O curso da história tem sido, em grande medida, delineado pela resposta que a humanidade deu ao aparecimento intermitente destes Fundadores das grandes religiões e educadores divinos. As suas revelações forneceram o ímpeto para os seres humanos criarem civilizações duradouras. A este respeito, é um facto estabelecido que, os seus ensinamentos estão na base de todos os sistemas morais e legais conhecidos no mundo civilizado. Neste contexto é possível dizer que o desenvolvimento ético da humanidade está dependente da religião . Os códigos civis de lei traçam as suas origens a estes mesmos princípios. Se é agora possível ver que as intuições morais são as mesmas em todas as culturas; que o sentido moral é universal; que embora as diferentes culturas tenham estabelecido diferentes regras morais, isto não significa que os seus valores morais sejam diferentes; que uma pessoa virtuosa é reconhecida como tal em toda a parte; é porque os ensinamentos morais destes educadores espirituais mostram uma semelhança notável. As admoestações morais para amar, mostrar bondade, ser verdadeiro, ser de confiança e sincero, mostrar modéstia e humildade, ter sentido de justiça e honestidade, ser paciente e perseverar em face das dificuldades, ser capaz de se sacrificar e prestar serviço para o bem comum de todos. Assim as Escrituras Sagradas afirmam: Todos os Manifestantes de Deus e Seus Profetas ensinaram as mesmas verdades e deram a mesma lei espiritual. Todos eles ensinam o único código de moralidade. Sem a dimensão transcendental fornecida pela religião, a ética fica reduzida a mera auto-preservação e interesse egoísta. Isto conduz à anarquia e à destruição dos laços sociais que mantêm juntos os seres humanos. Se a lâmpada da religião for obscurecida, caos e confusão surgirão, e as luzes da honestidade, justiça, tranquilidade e paz deixarão de brilhar. O que dá unidade à história é a sucessão de Manifestações de Deus e as Suas Mensagens progressivamente unificadoras. Sob esta perspectiva as diferentes religiões são diferentes etapas na história eterna e na evolução constante de uma mesma religião. Mas tendo perdido de vista a fundação comum das religiões, não vemos esses fundadores como agentes de um processo civilizacional funcionando através da história, ou as suas mensagens como expressões progressivamente mais completas da necessidade do espírito humano de transcendência. Este ponto de vista pode ser inculcado nos estudantes se a perspectiva adequada for trazida para a instrução religiosa. Desta maneira os fogos do preconceito e ódios religiosos serão arrancados pela raiz. Educação nas Artes Os seres humanos não vivem num mundo de simples factos; eles vivem num mundo de interpretação, de funções simbólicas. Eles vêem o mundo à medida que o constróem. Novas descobertas resultam da percepção do significado das relações ou do enquadramento dos factos ou acontecimentos. Estas actividades são o fundamento das artes. As artes formam um pilar central na educação, porque as artes da civilização conduzem à honra, prosperidade, independência e liberdade para um governo e para o seu povo. Educação nas artes significa treino das faculdades da percepção. Isto inclui o aguçar e o refinamento da imaginação e das percepções estéticas através da exposição, guiada, à boa literatura, às artes visuais e de representação e à música. É também educação emocional, porque as artes da musica e da linguagem, especialmente a literatura, trabalham para tornar as emoções tão disciplinadas e exactas como as ciências trabalham os pensamentos e as ideias. A importância da actividade genuinamente imaginativa foi afirmada na Bíblia: Onde não há visão o povo perece (Provérbios 29:18). Toda a actividade genuinamente imaginativa e artística é uma expressão do interesse do homem por si próprio, pelo seu lugar no universo, pelas suas relações com os outros seres humanos, com a natureza e com Deus. Tentar responder às perguntas sobre a origem primordial e o fim das coisas e ao que é de maior interesse à existência humana. Por isso diz também respeito à disciplina tanto interior como social que torna a realização possível. A verdadeira visão é a imaginação social, não a pessoal, a funcionar. O primeiro e o mais fundamental dos serviços que a actividade imaginativa fornece à sociedade é o desenvolvimento do conhecimento. Todo o conhecimento tem origem em uma construção imaginativa. O poder da reflexão é uma mina ideal que é a fonte das artes e das ciências. Desta maneira, a imaginação não está directamente interessada no ambiente, mas antes no mundo que podemos construir a partir desse ambiente. Por isso ela é estreitamente associada com o ver para além do mundo, a realidade que estrutura o mundo, por esta razão com percepção espiritual ou intuição. Em consequência disso a educação da imaginação é indispensável ao desenvolvimento de uma inteligência crítica, que se desenvolve por escolha e convicção, e uma mente crítica permite a independente investigação da verdade. O segundo grande serviço que a imaginação presta à moralidade e à sociedade é na área do conhecimento social e da construção da realidade social. A actividade imaginativa permite a participação dos indivíduos na vida mental dos outros através do uso de metáforas, comparações, analogias, outras coisas semelhantes, de todo o conjunto completo das ferramentas da comunicação, que são também os utensílios primários da imaginação. Comunicação através de símbolos é o conjunto de toda aquela actividade que associamos ao mundo da cultura. A cultura pode ser partilhada. Este facto diferencia-la da pura consciência subjectiva do indivíduo solitário. Mas porque as artes desempenham um papel tão importante na organização das percepções da realidade, o seu poder a este respeito deve, contudo, preocupar-nos sobre a sua adequada utilização. A cultura como simples exploração e experimentação estética, por si só, é perigosa e leva à humilhação artística. Uma cultura superficial, não baseada numa moralidade instruída, é como um baralhado novelo de sonhos e o lustro exterior sem uma base interior de perfeição é como o vapor no deserto que o sequioso sonhou ser água. Serão atribuidos aos artistas e artesãos, uma posição social elevada, e explicam a sua importância para o desenvolvimento social. Nelas se afirma O propósito do conhecimento deve ser a promoção do bem-estar do povo, e isto pode ser realizado através das artes e dos ofícios... o verdadeiro valor dos artesãos e artistas deve ser devidamente apreciado, porque eles fazem avançar os afazeres da humanidade... os meios de sustento dependem daqueles que estão ocupados com as artes e os ofícios. Com o foco moral adequado ver-se-á que o propósito final do treino nas artes não é estético ou contemplativo para a mente individual, mas ético, de participação numa visão de construção da comunidade, com o desenvolvimento estético com o seu sentido de estrutura e proporção permitindo um melhor resultado ético. O objectivo desta actividade é habitar o mundo maior possível, imaginativamente conceptível, que os Livros Sagrados chamam de Paraíso. Mas o paraíso não é um céu privado, antes é colectivo. Está contido na Cidade Sagrada da Revelação. Educação nas Ciências sociais A humanidade está a ficar unida dentro de uma nova ordem política e económica. Unidade mundial é o espírito da época. Este movimento pode ser percebido no desenvolvimento social, por exemplo, na consolidação de um sistema universal de direitos humanos pelas Nações Unidas. Para preparar o futuro comum e unido da humanidade, a educação nas ciências sociais deve agora concentrar-se não sobre quão diferentes são as culturas, raças e sociedades mas antes focar como elas são expressões diversas de uma natureza humana comum. A educação deve acender na mente da juventude a necessidade imperiosa da unidade no pensamento, sentimento e consciência com todos os povos do mundo, e promover as atitudes que tornam isto possível. Deve demonstrar a necessidade da abolição de todas as formas de preconceito seja baseado em religião, raça, classe, género ou educação. Porque estas influências venenosas do preconceito e do ódio têm congelado até hoje a expressão do total potencial da humanidade, apesar dos nossos ilimitados avanços científicos. A educação nas ciências sociais deve ensinar os estudantes a reflectir sobre as suas vidas e sobre os valores que estruturam o seu comportamento e acções. Eles devem ser, desde tenra idade, pensadores morais. Devem ser encorajados a fazer perguntas e a questionar as respostas. Eles devem ter direito a criticar os pressupostos de um ambiente social que não se importa com eles, e de analisar as instituições que organizam as suas interacções sociais. Eles devem ser encorajados a desenvolver estratégias para melhorar a sociedade e empossados para realizar as reformas necessárias. Um estudo sério das ciências sociais desenvolve o sentido da justiça social. É essencial adquirir o valor da justiça. Declarado a relação entre justiça e os propósitos gémeos da vida humana quando escrito: A mais amada de todas as coisas a Meus olhos é a justiça; não lhe vires as costas se Me desejas e não a neglegencies para que Eu possa habitar em ti. Através dela verás com teus próprios olhos e não através dos olhos dos outros, e saberás através do teu próprio conhecimento e não através do conhecimento do teu vizinho. Essencial de unidade global, e com impacto directo nos princípios e objectivos da educação é a Sua afirmação da igualdade do homem e da mulher. A mulher tendo sido anteriormente destituída, devem-lhe agora ser permitidas oportunidades iguais às permitidas aos homens no que concerne educação e treino. O papel da mulher na educação está claramente revelado no papel da maternidade. As jovens mulheres tornar-se-ão mães e as mães são as primeiras educadoras das crianças, são as que estabelecem as virtudes na natureza íntima da criança. Elas encorajam a criança a adquirir perfeições e boas maneiras, avisam-na contra os maus princípios e encorajam-na a mostrar vontade, firmeza e perseverança nas dificuldades e a avançar na grande estrada do progresso. O treino que a criança primeiro recebe através de sua mãe constitui o mais forte alicerce para o seu desenvolvimento futuro. Também o investimento na saúde e educação da mulher é essencial à prosperidade humana a todo o nível. Com a adição à força de trabalho das mulheres educadas e com o aumento na produtividade proporcionado por estas trabalhadoras, populações inteiras têm saído da pobreza. Num sentido mais amplo, a educação nas ciências humanas deve equipar cada indivíduo com as atitudes e as capacidades para viver livre das algemas de todo o preconceito. A terra é um só país e a humanidade os seus cidadãos. Esta declaração transporta implicações de longo alcance para a organização da sociedade civil. Ela implica a necessidade de um sistema de leis mundial; um sistema de pesos e medidas universalmente aceite; uma moeda mundial, um governo mundial, e uma língua auxiliar universal. Socialmente, a fundação de uma tal atitude global é a ideia de cidadania do mundo; que servir os interesses da humanidade é servir os melhores interesses da nação. Observa nenhum homem diferente de ti próprio. Vê nenhum estranho; antes vê todos os homens como amigos, porque amor e unidade chegam mais dificilmente quando olhas para as diferenças. Uma educação em história, orientada para o global, reconheceria as contribuições para a civilização humana que foram feitas por todos os povos do mundo. Ela descreveria como as anteriores unidades sociais da família, tribo, cidade-estado e nação-estado são análogas à construção de um mundo unificado, e à luz das maravilhas actuais de comunicação e transportes, a promessa da sua realização, e indicaria qual o supremo motivo potenciador para o estabelecimento e avanço da civilização. Educação nas Ciências Naturais A relação entre os poderes interiores de reflexão e intuição e o desenvolvimento das artes e ciências é: A origem dos ofícios, ciências e artes reside no poder da reflexão. Fazei todo o esforço por forma a que desta mina ideal possam ser extraídas tais pérolas de sabedoria que promovam o bem-estar e a harmonia de todas as raças da terra. O estudo das ciências biológicas fornece conhecimento sobre o ambiente natural orgânico. Esta ecoesfera envolve os seres humanos num equilíbrio delicado e complexo com todas as coisas vivas, que devem ser conservadas para que a vida continue. Através do estudo das coisas vivas os estudantes ganharão a compreensão das leis orgânicas de crescimento e desenvolvimento. As ciências biológicas também estão relacionadas com as ciências sociais, porque os reinos vegetal e animal servem os desígnios e as necessidades dos seres humanos e, estão relacionadas com as ciências físicas das coisas inorgânicas das quais, por sua vez, crescem. A importância das ciências físicas, cujo fundamento e linguagem é a matemática, está provada pelo facto de que elas proporcionam os meios através dos quais os humanos compreendem o mundo natural inorgânico, constituíram a força propulsora do desenvolvimento industrial. As alterações revolucionárias na sociedade humana que ocorreram nos séculos mais recentes foram conduzidos por e atingiram a sua expressão mais clara através da explosão da tecnologia. Com a tecnologia o homem tornou-se o governador inquestionável do ambiente natural, mas tal como o naufrágio das duas guerras mundiais e das inumeráveis pequenas guerras claramente mostra, o homem ainda não se governa a si próprio. Economicamente, enquanto que as antigas barreiras à paz e prosperidade caíram ao serem descobertos os meios tecnológicos para produzir incontável riqueza, as barreiras interiores da suspeição e da desconfiança permaneceram teimosamente intactas, impedindo a justa distribuição de recursos e bens e o seu uso adequado. Um estudo sério destas ciências relacioná-las-ía, por um lado, com o princípio moral do cuidado com o ambiente natural, que é a casa comum de todas as coisas vivas e por outro lado com a necessidade de progresso para a humanidade. Os seres humanos são os encarregados deste mundo. Para uma nação gastar em nome do progresso económico é gastá-lo para todos. Contudo há ainda outro princípio que deve ser respeitado e que é o da necessidade inata do progresso interior dos seres humanos. Devemos salvar a terra. Mas as preocupações de salvar a terra não podem estar divorciadas do progresso humano, social e económico. Declarado de forma oposta, a necessidade de progresso é intrínseca ao espírito humano, todavia, o progresso não pode destruir o ambiente natural no seio do qual se realiza o seu desenvolvimento. O desafio de conciliar o progresso material e a protecção do ambiente cria a nova ideia de crescimento económico sustentável; isto é, crescimento que não degrade o ambiente nem prejudique o clima e que conserve as relações universais entre todas as coisas criadas. A reconciliação da natureza e do progresso só pode ser conseguida se o progresso e a proteção estiverem ligadas por valores universais e princípios operativos de conduta. Cooperação, ajuda mútua e reciprocidade são a fundação de ambos progresso duradouro e conservação dos recursos naturais. Apenas a nutrição de tais valores pode criar o clima moral e psicológico no qual uma civilização pode progredir e florescer com ambiente sustentável. escrito: Não podemos segregar o coração humano para fora do ambiente e dizer que uma vez que um deles seja reformado tudo ficará melhor. O homem é orgânico com o mundo. A sua vida interior molda o ambiente e é também ele próprio fortemente afectado pelo ambiente. Um actua sobre o outro e toda a mudança duradoura na vida do homem é o resultado destas reacções mútuas. Restabelecer uma relação adequada entre os seres humanos e a natureza requer não só uma transformação pessoal e psicológica como também social. Só quando a dimensão espiritual da natureza humana for aplicada à organização da sociedade pode a crise global do ambiente ser tratada. Hoje, a humanidade só pode ser transformada através de valores universais. Apenas estes levam os indivíduos e os povos a actuar de acordo com os interesses a longo prazo do planeta e da humanidade como um todo. Tais qualidades como amor, compaixão, perseverança, justiça, confiança, coragem e humildade, a percepção do valor intrínseco de todas as formas de vida e de uma crescente consciência da interdependência de todas as formas de vida, deve ser não só parte do nosso pensamento e sentimento mas deve também encontrar expressão legal e social. Educação Vocacional e Técnica A aprendizagem académica deve ser integrada com experiência pratica e treino vocacional. É dever daqueles que estão encarregados da organização da sociedade dar a cada indivíduo a oportunidade de adquirir o conhecimento necessário em algum tipo de profissão e também os meios de utilizar tal conhecimento, tanto para seu próprio benefício como para ganhar os meios da sua própria subsistência. É um direito humano básico que toda a pessoa tenha direito ao trabalho. A educação para a força de trabalho tornou-se altamente especializada, mas em muitos casos ela passou a dominar completamente os objectivos da educação. Há perigo neste domínio. Se a aprendizagem verdadeira significa mudança, mudança do próprio e melhoramento da sociedade, então o objectivo da educação para o indivíduo não pode ser apenas o de obter uma posição determinada na força de trabalho. E a razão da nação para educar os seus educandos não deve ser limitada a aumentar o crescimento económico nacional, produzindo técnicos altamente qualificados nas várias áreas. A especialização e a padronização, tal como as conhecemos, são objectivos educacionais obsoletos, porque a concentração na capacidade técnica causa a perda de consciência no próprio ser ao focar-se apenas em metas materiais. Deve ser ensinada a ligação adequada entre o conhecimento do próprio, o conhecimento da sociedade e o treino para uma profissão e o verdadeiro propósito do trabalho. As Escrituras Baháis afirmam que cada estudante deve receber treino e instrução naquele campo para o qual ele tenha inclinação, desejo ou talento. A cada criança deve ser ensinada uma profissão, arte ou comércio, por forma a que todo o membro da comunidade seja capaz de ganhar a sua própria vida. Mas o propósito final do trabalho do indivíduo é servir o bem comum. Se esta perspectiva for ensinada então o treino técnico e vocacional ajudará a criar a unidade do género humano. Educação física Finalmente, neste trabalho resumido, chega a vez da educação física que pode também incluir treino dos sentidos. Tal é necessário não só porque um corpo forte é preciso para manter a saúde e o vigor mas também porque, como disse, uma mente sã não pode existir senão num corpo são. Nesta área devem aprender as capacidades necessárias à vida, devem-lhes ser ensinados os princípios de uma nutrição saudável, cuidados com o corpo, e como cozinhar refeições simples. O treino físico incluirá, naturalmente, desportos, dança e ginástica. Mas também poderá haver instrução sobre como movimentar o corpo, permanecer com boa postura e outros tópicos do género. Além disso, passeios na natureza e nas cidades, especialmente para observar cores, formas, sons, cheiros e gostos, orientação pelo sol. Isto manterá o corpo forte e contribuirá com a sua parte para o processo de aprendizagem. Educação para o serviço Uma educação baseada na moral significa que o objectivo de toda a aprendizagem não reside no progresso pessoal ou na satisfação própria, mas no serviço ao outros; isto é, aprender é primeiramente cívico não pessoal. Deve servir para dar uma contribuição ao mundo mais amplo, não à nossa própria carreira. Um sentimento profundo de obrigação para com a comunidade baseia-se na obrigação de pensar primeiro no bem comum. Contudo, atitudes de serviço à comunidade nascem do desejo do indivíduo progredir, ele próprio, espiritualmente. É uma verdade que muita da eficácia da instrução depende da vontade do estudante para aprender e ser educado. Mas uma vontade forte de ser educado traz vantagens a mais do que apenas ao indivíduo, porque o cultivo de atitudes positivas face à aprendizagem está a ser percebido como sendo uma prè-condição para a realização da maioria das metas e objectivos sociais e económicos. Um sentido claro da nossa própria identidade e do sentido da vida, permite fixar metas realistas e desafiar a nossa própria capacidade para os alcançar. A motivação para lutar e exceder-se é ampliada ainda mais pelo desenvolvimento de uma atitude moral para com o estudo e o trabalho, uma atitude que empossa espiritualmente um indivíduo para esforçar-se pela excelência em todas as coisas através de um sentimento de dignidade pessoal e auto-respeito que se ajusta por nada mais do que libertar as nossas próprias capacidades e talentos únicos para o serviço dos outros. As Escrituras afirmam que: A verdadeira aprendizagem é aquela que conduz ao bem-estar do mundo. O factor mais importante a instilar nos alunos é a necessidade de serviço, é o espírito unificador que junta as pessoas para a resolução dos seus problemas comuns de uma maneira construtiva, porque é só quando os estudantes aprendem a tornar-se agentes activos da sua própria aprendizagem, em vez de ouvintes passivos, é que as atitudes voluntárias de serviço aparecem e se desenvolvem. Uma educação completa dirigida para o serviço incluirá oportunidades para os estudantes desenvolverem activamente boas qualidades na experiência interpessoal directa. A atenção dos estudantes deve centrar-se sobre o melhoramento da sua comunidade local, porque o potencial criativo que existe escondido em cada um, aos níveis intelectual, emocional e moral é aberto principalmente no serviço aos outros. O curriculum deve ser elaborado com o objectivo de desenvolver as aptidões necessárias para o relacionamento com o meio social. Então, num curriculum propulsionado para o serviço, os problemas, objectivos e aspirações da comunidade podem e devem ser uma parte importante do curriculum. Como podemos ajudar? Que transformações é preciso fazer agora para avançar a visão? Estas são as perguntas. Os estudantes devem aprender a abordar as perguntas articuladamente, com sentimento e visão, discurso eloquente e argumento persuasivo. Conclusão Nosso tem sido um século de fermento quase contínuo, uma era tumultuosa de experiência. Por todo o lado os padrões estão a mudar, a sociedade está em transição. Toda a arena da actividade humana sentiu o assalto determinado às praticas antigas e às fórmulas estabelecidas. Toda a esfera das crenças tradicionais e do pensamento foram desafiadas e ultrapassadas. Pressupostos honrados durante longo tempo foram deitados fora, e, em seu lugar, frequentemente de forma violenta, foram estabelecidos outros por vezes ainda imaturos. A nossa argumentação mostra que em tais tempos de incerteza, inculcar atitudes morais é o único meio seguro através do qual a educação pode ajudar a sociedade a progredir e a avançar porque tais atitudes e virtudes elevam, o nível de vida e de actividade, os motivos e os padrões que governam as relações existentes entre toda a população. A verdadeira riqueza de um povo reside nas suas nobres qualidades de espírito. A sua verdadeira pobreza reside no pensamento e coração não desenvolvido. A educação não deve ser apenas um meio para melhorar o bem-estar material do indivíduo e da nação. Primeiro e mais importante, a educação deve aspirar a desenvolver na pessoa indivifual a gama completa do seu potencial humano e acordar nela o desejo de trabalhar para o enriquecimento e progresso da sociedade. Este processo espiritual ocorre mais efectivamente quando segue de mão dada com a transformação da sociedade. Por isso a educação deve também ser examinada à luz da sua contribuição para provocar mudanças estruturais fundamentais na sociedade, mudanças que são necessárias para a criação de um meio harmonioso, pacífico e justo. Hoje a educação deve também actuar como um poderoso instrumento para a transformação social profunda. Os educadores têm uma grande responsabilidade quanto ao cuidado das crianças e à sua preparação para o futuro. As atitudes que os estudantes desenvolvem sobre eles próprios, sobre os outros e em relação ao mundo e ao futuro, são largamente formadas pela experiência a que chamamos educação. No final, cabe a todos os habitantes do mundo analisar cuidadosamente a presente situação, tanto dentro como fora das escolas e harmonizá-las. O campo é vasto e está praticamente por trabalhar. O desafio é nosso. Os resultados dependem da compreensão da nossa visão e da nossa vontade de a realizar. Tudo aquilo que potencialmente possuis só pode ser manifestado como resultado da tua própria vontade. O tempo é oportuno para uma reavaliação da educação nos seus princípios de raíz e metáforas da natureza humana. O povo deve ser completamente libertado dos seus antigos padrões de pensamento... até que os antigos conceitos e praticas sejam deixados e esquecidos, este mundo do ser não encontrará paz, nem reflectirá as perfeições do Reino Divino. |